13 de março de 2013

“Querido Deus, a única coisa que eu te peço é que cuide dela enquanto eu não estou por perto.”


Um homem pode apaixonar-se por um sorriso, um gesto ou apenas no primeiro e mais curto olhar. Um olhar que pode ser apenas por reflexo, mas a paixão não quer saber disso. E o que acontece na maioria dessas situações é sempre, ou quase sempre, a mesma coisa. Você simplesmente olha, apaixona-se, vira o rosto quando a perde de vista e segue seu caminho se lamentando por não ter tido ao menos a bondade consigo mesmo de pensar em falar um simples bom dia. Pode ser que eu não entenda, que isso seja incompreensível ou que seja simplesmente inexplicável. Mas o que eu senti quando a vi foi demasiado desconfortante. Claro que por eu ser um homem sério e cauteloso não esbocei o mínimo interesse por essa situação, por mais que minha caixa torácica se tornasse pequena para meu coração com crescimento precoce. Aparentemente eu poderia estar apaixonado, mas preferi acreditar que não passou de um enlevo momentâneo. Mas de sentimento efêmero e desimportante, tal arrebatamento em meu peito tornou-se dolorido e constante. Derramei o bom dia não dito em poesias, assim como furtei seu olhar extasiante e nele pensava ao ouvir toda e qualquer melodia. E de homem áspero e fugaz encontrei-me desesperadamente preso às lembranças daquele momento, sendo consumido pelas fraquezas humanas que só um homem apaixonado conhece. Tornei-me cada segundo mais dependente de qualquer semblante que lembrasse o dela, para que aquele sublime instante em que nossos lábios se encontrassem fosse mais do que apenas criação da minha mente. A perda de meu ceticismo diante os fascínios prematuros do amor recém descoberto me levaram a nutrir duas premissas que mudaram minha vida. O ressaibo de se ver apaixonado por algo que não se pode ter. A consternação pelas oportunidades perdidas. Ambas fazem um homem sofrer. A paixão não vivida é o paroxismo do amor.


O vento explode nas nucas desprotegidas de um verão que já se foi. As árvores tingem calçadas e ruas com suas flores que desbotam com o tempo. E que tempo é esse? Que tempo é esse que nubla o céu e despenteia os cabelos, que o Sol se esconde e folhas secas viram gotas de chuva? Que tempo é esse?


As consequências do capitalismo não aparecem nas propagandas de Coca-Cola. A família sem teto e cobertor não aparece nos comerciais de margarina. O homem que perdeu dezesseis, dos trinta e dois dentes da boca, lá onde Judas nem sequer pisou, não aparece nas propagandas de creme dental. Gente de verdade não aparece no horário nobre. Sinto muito, mas o mundo é muito mais do que mostra a novela. Quem tem quatorze anos com pele de quarenta não é quem deixa de usar o novo anti rugas. É quem morre de sede num lugar onde ninguém jamais pensa em passar as férias. Sinto dizer que milhares de crianças haitianas trabalham como escravas na produção do seu tênis novo. Mas a televisão mostra o artista bonito praticando exercícios com seu novo sistema de amortecedores. O mundo se comove com o câncer porque todos podem ser vítimas. Mas só se comove com a fome quem a vive. Na verdade,muitas vezes, mal há tempo para a comoção. Existem crianças que encontram forças para enterrar suas famílias inteiras nos solos secos da África. Enquanto isso, do outro lado do mundo, do outro lado da moeda, do outro lado da tela da TV, a realidade é outra. Fome é o que se sente entre o horário do café da manhã e do almoço. Sede é o que se sente após correr na esteira da academia. AIDS é mito. Enquanto milhares de mulheres buscam estar abaixo do peso por padrões de beleza impostos pelas revistas de moda, milhões de pessoas dariam suas vidas para ter saúde. Dariam tudo para viver mais de 30 anos. A televisão mostra a quantidade de mortos no ataque ao World Trade Center, mas não mostra quantos morreram hoje em Moçambique. A bomba jogada em Pearl Harbor foi uma tragédia, um absurdo. O neocolonialismo enterra, indiretamente, milhares de pessoas todos os dias, mas não aparece nos filmes. O capitalismo selvagem não aparece nas propagandas e o homem primata, infelizmente, não o vê.


Nenhum comentário:

Postar um comentário