“Acho que estou andando pra frente. Ontem ri
tanto no jantar, tanto que quase fui feliz de novo. Ouvi uma história
muito engraçada sobre uma diretora de criação maluca que fez os
funcionários irem trabalhar de pijama. Mas aí lembrei, no meio da minha
gargalhada, como eu queria contar essa história para você. E fiquei
triste de novo. Hoje uma pessoa disse que está apaixonada por mim. Quem
diria? Alguém gosta de mim. E o mais
louco de tudo nem é isso. O mais louco de tudo é que eu também acho que
gosto dele. Quase consigo me animar com essa história, mas me animar ou
gostar de alguém me lembra você. E fico triste novamente. Eu achei que
quando passasse o tempo, eu achei que quando eu finalmente te visse tão
livre, tão forte e tão indiferente, eu achei que quando eu sentisse o
fim, eu achei que passaria. Não passa nunca, mas quase passa todos os
dias. Chorar deixou de ser uma necessidade e virou apenas uma iminência.
Sofrer deixou de ser algo maior do que eu e passou a ser um pontinho
ali, no mesmo lugar, incomodando a cada segundo, me lembrando o tempo
todo que aquele pontinho é um resto, um quase não pontinho. Você, que já
foi tudo e mais um pouco, é agora um quase. Um quase que não me deixa
ser inteira em nada, plena em nada, tranqüila em nada, feliz em nada.
Todos os dias eu quase te ligo, eu quase consigo ser leve e te dizer:
“Ei, não quer conhecer minha casa nova?” Eu quase consigo te tratar como
nada. Mas aí quase desisto de tudo, quase ignoro tudo, quase consigo,
sem nenhuma ansiedade, terminar o dia tendo a certeza de que é só mais
um dia com um restinho de quase e que um restinho de quase, uma hora, se
Deus quiser, vira nada. Mas não vira nada nunca. Eu quase consegui te
amar exatamente como você era, quase. E é justamente por eu nunca ter
sido inteira pra você que meu fim de amor também não consegue ser
inteiro…”
— Tati Bernardi
— Tati Bernardi
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