3 de maio de 2014

“É na bagunça que eu me arrumo.” — Caio Fernando Abreu


“A gente percebe que aquilo é amor quando uma coisinha irrita, desgasta, aflige, incomoda e quase insulta, mas se desaparece ou brinca de esconde-esconde bate uma saudade imensa. Amar é sentir falta do defeito, do avesso, da parte suja, crua, impura.”
— Clarissa Corrêa


“Sozinho posso te ver melhor, quando se vai o sol procuro o fio do seu cabelo no lençol. Baixei aquele filme que, cê disse que era bom e vi que nada é tão bom quando cê não ta aqui. Um dia sem você é triste, uma semana é maldade, um mês não existe, dou meus pulos, atravesso a cidade. Junto dinheiro pra financiar a viagem, uma bolacha, um salgadinho, 2 refri e a passagem. Já era, já fui, me espera amor, vou atrasar mais 10 minutos, parar pra te comprar uma flor. E to pronto, na melhor roupa que eu tenho, uma rosa na mão esquerda, na outra mão um cartão com desenho. Correndo pra rodoviária, o buso sai às 9:00, desculpa o cartão molhado, é que Novembro sempre chove à tarde. E hoje a chuva tá bolada, já me sentei, fiz minha oração, se Deus quiser nem pega nada, vai. To indo sentado, vendo as montanha, lembrando que quanto mais você me perde, mais vezes você me ganha. E aquela briga ontem foi foda, eu não queria te dizer, que eu não queria ter você, mas eu queria que você soubesse que eu me importo e que eu sinto que essa chuva é o reflexo do estado do meu corpo. E foi pensando nisso que me joguei pra cá, pra ver se quando eu te encontrar eu faço essa chuva parar. Será que isso é possível? Eu sonhador demais, na entranha dor demais, essa estranha dor é mais do que saudade, é como uma necessidade, de poder ter a certeza que não era verdade o que você disse por telefone, que tava na hora de eu te provar que podia ser o seu homem. Que um menino que nem pode sustentar um lar, nunca seria bom o suficiente pra tu casar. Foi pensando nisso que eu entrei nesse busão, mas talvez eu seja só um menino com uma rosa na mão. E eu te ligo no celular, te avisando que eu tô indo, e te pedindo pra ir lá par me esperar, mas você que nunca disse que me ama, mais uma vez desliga sem dizer, se arruma e vai pra cama. Tudo bem, dorme bem amor, te amo, quando acordar passa perfume que o seu homem tá chegando, vai. A cada segundo a chuva aumenta, nessa poltrona, a cada minuto que eu durmo, eu acordo quarenta. Janela embaçada, tampando minha visão, eu fecho os olhos e praticamente sinto sua respiração. É como o silêncio do meu quarto sem você, culpa dessa distância que me impede de te ver. Me impede de provar que te mereço, e te mostrar que o dinheiro tá pouco, mas que a alegria não tem preço. E eu pensando em você nesse momento, aproveito o tempo, pra treinar o pedido de casamento. Depois da briga, acordei cedo, peguei toda economia e comprei a aliança em segredo. Juntei moeda por moeda, pra poder tá aqui, pra mostrar que um menino pode te fazer sorrir. Te sentir mais uma vez, sentir por uma vez, que achar que eu sou teu sonho não é uma insensatez. Mas pera aí, eu ouço um barulho, o que que tá pegando, a aliança caiu do meu bolso, tudo balançando. Quem tá gritando? Por quê ta girando? Alguém sabe? Tento chamar seu nome, mas minha boca nem abre. Barulho de chuva, pneu, escuridão, lembrar seu rosto se tornou a última opção. Agarro forte a rosa na lama, menino ou homem você me deixou partir sem dizer que me ama. Eu não pensei que fosse pra tão longe essa viagem, toca o celular é você me mandando mensagem, eu preso nas ferragem sem me mexer, sei que você me escreveu mas fecho os olhos sem saber o quê.”
— Projota

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